Consumir cultura negra é um ato de consciência, de reparação e, sobretudo, de celebração. É reconhecer que o Brasil que conhecemos foi construído por mãos negras, por vozes que cantaram em meio à dor, por corpos que dançaram mesmo quando lhes negaram o direito de existir. É entender que tudo o que forma a base da nossa cultura — da culinária à música, da moda à religião — tem raízes africanas. E, portanto, apoiar a produção cultural negra não é caridade nem modismo: é justiça.
Ao consumir cultura negra, abrimos espaço para que artistas, intelectuais e criadores que por séculos foram marginalizados possam ocupar o lugar que sempre lhes pertenceu. Quando compramos um livro de uma autora negra, quando assistimos a um filme com protagonistas negros, quando valorizamos a música produzida nas periferias ou as marcas que celebram a negritude, estamos fortalecendo um ecossistema que gera renda, autoestima e pertencimento.
Mas o consumo da cultura negra vai além do mercado — ele é uma forma de educação. Ao nos aproximarmos da arte negra, aprendemos sobre o Brasil que o racismo tentou apagar. Aprendemos que existe beleza e genialidade em cada traço, em cada som, em cada expressão. É um aprendizado sobre o outro, mas também sobre nós mesmos.
Há também um aspecto espiritual e emocional nesse consumo. A cultura negra fala de ancestralidade, de conexão, de memória. Ela nos lembra que somos continuidade, que cada batuque vem de muito longe e que a força do nosso povo é inesgotável. E quando escolhemos prestigiar essa cultura, estamos, de certa forma, reafirmando que queremos um país mais equilibrado, onde o reconhecimento não dependa da cor da pele.
Consumir cultura negra é, portanto, um gesto político, mas também um gesto de amor. É dizer: eu vejo você, eu ouço você, eu valorizo você. E é esse olhar que transforma. Porque o racismo se combate também com afeto, com visibilidade e com oportunidades reais. A cada ingresso comprado, a cada livro lido, a cada música compartilhada, estamos ajudando a reescrever a história. E essa história, finalmente, é contada em primeira pessoa.

