Dia 20 de novembro é dia de celebrar o aniversário de Gutemberg Guarabyra, cantor e compositor baiano que – ao lado do mineiro Luiz Carlos Sá – formou, por muitos anos – a dupla Sá & Guarabyra e com quem compôs um dos maiores hits da MPB: a canção “Dona“, sucesso do Roupa Nova, sobre a qual saberemos a história hoje.
Tudo sobre Guarabyra
Guttemberg Nery Guarabyra Filho nasceu no ano de 1947, no município de Barra, na região do Vale do São Francisco, interior da Bahia.
Em 1966, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou – no ano seguinte – sua carreira artística, ao lado de Luiz Carlos Sá e Sidney Miller, no espetáculo de inauguração do Teatro Casa Grande.
No final de 1967, Guarabyra participou do II Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, vencendo a fase nacional com a canção “Margarida“, inspirada em uma cantiga de roda e interpretada por ele próprio, acompanhado pelo Grupo Manifesto.
Contratado pela TV Tupi do Rio de Janeiro, foi responsável pela produção musical dos programas “Bibi ao Vivo” e “Blota Jr.”. Em 1969, no Festival de Música de Juiz de Fora, sua canção “Casaco Marrom” – composta em parceria com Renato Corrêa e Danilo Caymmi, e interpretada por Evinha – foi classificada em 1º lugar.

Em 1971, formou, com Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix, o trio Sá, Rodrix & Guarabyra, com o qual gravou os álbuns “Passado, Presente e Futuro” (1971) e “Terra” (1972). O trio fazia o que chamavam de “Rock Rural” é um estilo musical criado por eles e que incorporou à música popular brasileira influências do folk-rock e da música country anglo-saxônicos e também da toada lusitana, com uma linguagem poética que se refere aos temas do campo, resultando numa musicalidade com ritmo de balada pop.
A partir de 1973, com o desligamento de Zé Rodrix do trio, Guarabyra passou a atuar em dupla com Sá com o nome de “Sá & Guarabyra”.
Gravaram a partir daí os álbuns:
- Nunca (1974)
- Cadernos de Viagem (1975)
- Pirão de Peixe com Pimenta (1977)
- Quatro (1979)
- 10 anos Juntos (1983), um dos maiores sucessos da dupla, que vendeu quase um milhão e meio de cópias
A dupla ainda lançou diversos álbuns ao longo dos anos 90, até que – em 2001, depois de 26 anos – Zé Rodrix, voltou e tornaram-se novamente um trio, cuja reestreia aconteceu no Rock in Rio III.
O trio ainda lançou o álbum ao vivo “Outra vez na Estrada” (2001) e “Amanhã” (2009), pouco antes do falecimento de Zé Rodrix.
Entre os maiores sucessos de Guarabyra como compositor, estão as canções:
- Mestre Jonas (parceria com Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix)
- Outra Vez na Estrada (parceria com Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix)
- Casaco Marrom (com Renato Corrêa e Danilo Caymmi)
- Sobradinho (com Luiz Carlos Sá)
- Roque Santeiro (com Luiz Carlos Sá)
- Verdades e Mentiras (com Luiz Carlos Sá)
- Dona (com Luiz Carlos Sá)
- Espanhola (com Flávio Venturini)
Guarabyra foi também diretor e produtor musical de televisão, colunista e cronista da Agência Estado e do jornal Diário Popular, além de ter publicado um livro de ficção – “O Outro Lado do Mundo”, em 1999.
O último trabalho de Sá & Guarabyra como dupla – agora ambos seguem carreiras solo – foi o álbum “Cinamomo“, de 2018. Em 2025, os artistas anunciam a dissolução da dupla por ‘causas naturais’.
A história por trás da música “Dona”
Originalmente composta e apresentada por Sá & Guarabyra no Festival de Música Popular Brasileira de 1982, a música “Dona” ganhou projeção nacional e tornou-se um dos maiores hits da MPB quando foi regravada três anos depois – em 1985 – pelo grupo Roupa Nova, para integrar a trilha sonora da novela “Roque Santeiro”, da TV Globo, tendo sido a segunda canção mais tocada desse ano nas rádios do Brasil.
O curioso é que o grupo não queria gravar a canção e quem insistiu (quase forçou) o Roupa Nova a gravar “Dona” foi o produtor Mariozinho Rocha.
Mas o que poucos sabem é que a inspiração para a letra da música “Dona” nasceu de uma história de amor real e arrebatadora, vivida por Guarabyra – compositor da canção ao lado de Luiz Carlos Sá – no final dos anos 1970.
Foi se apresentando no bar Dama da Noite, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, que o músico conheceu Marisa Saad – filha de Johnny Saad e herdeira do grupo Band, hoje presidente do Instituto Band) – então uma estudante de veterinária que organizava festivais universitários em Jaboticabal, no interior do estado.
Marisa estava em busca de artistas para um evento da faculdade, e foi assim que encontrou Guarabyra. Os dois iniciaram um relacionamento que – marcado por idas e vindas – durou cerca de 10 anos.
Certo dia, já com a dupla Sá & Guarabyra, o compositor tinha ido fazer um show em Goiânia e estava descansando no hotel. Guarabyra ao pegar no sono, sonhou com o seu amor e – no próprio sonho – também vieram os acordes, a melodia e parte da letra de “Dona”.
Guarabyra se levantou depressa e foi tocar a harmonia ao violão para ver se de fato os acordes eram aqueles com os quais ele havia sonhado: e eram! Ele foi então chamar o companheiro musical Sá, para que, juntos, concluíssem a canção.
Sá contou em entrevista que estava hospedado no quarto de cima de Guarabyra e não atendia as suas ligações porque estava no telefone com uma namorada. Guarabyra então ficou batendo no chão do quarto de Sá com um cabo de vassoura, até que ele o atendesse. Terminam a música “Dona” em menos de 20 minutos.
“Dona” é, no fundo, uma carta de amor, cheia de saudade, intensidade e história.
Mais tarde, Marisa Saad revelou em entrevistas que a música é um retrato fiel de sua personalidade: “Como na canção, tenho um lado tirano e um lado meigo”. E completa: “O Gut[apelido de Guarabyra] foi uma paixão muito louca”.
Já Guarabyra brinca que: “A ‘Dona’ tinha ciúme da ‘Espanhola’”, em referência à outra canção marcante de sua carreira, inspirada por outra mulher que também marcou sua vida. Você conhece a história completa de “Espanhola”, parceria de Guarabyra com Flávio Venturini, nesta matéria especial.
E, depois de virar hit com o Roupa Nova, o sucesso da música “Dona” não parou por aí! A faixa atravessou fronteiras, fez sucesso em Portugal, ganhou uma versão em espanhol em 1992, “Mi Dueña” (composta por Héctor Luis Ayala), e voltou à cena nacional em 2014, quando foi incluída na trilha sonora da novela “Império”, também da TV Globo.

