Hoje, dia 20 de novembro, é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil. A data foi escolhida exatamente por ser o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.
Para celebrar a importância desse dia e de Zumbi de Palmares para o povo brasileiro, trouxemos a história de um dos principais clássicos da carreira deJorge Ben Jor, “Zumbi“, música de 1974 que conta a história de Zumbi dos Palmares.
Zumbi dos Palmares
Zumbi dos Palmares foi o último líder do Quilombo dos Palmares, o maior quilombo do Brasil colonial, e é um símbolo da resistência negra contra a escravidão. Nascido em Alagoas, em 1655, ele assumiu a chefia do quilombo por volta de 1680 e fortaleceu sua defesa contra os ataques dos colonizadores.
Um dos maiores líderes negros do Brasil, Zumbi foi lutou pela libertação do seu povo contra o sistema escravocrata vigente, sendo – até hoje – um dos maiores símbolos de combate ao racismo no Brasil.
O Quilombo dos Palmares formava a resistência ao sistema escravocrata que vigorava na época. Ali, os negros escravizados recuperavam sua liberdade, preservavam a cultura africana na colônia e viviam do plantio e do comércio realizado com cidades próximas.
Zumbi dos Palmares foi assassinado em 1695, enquanto defendia a sua comunidade e lutava pelos direitos do seu povo.

O Dia da Consciência Negra
O idealizador do Dia da Consciência Negra na data de morte de Zumbi – 20 de novembro – foi o poeta, professor e pesquisador gaúcho Oliveira Silveira, um dos fundadores do Grupo Palmares, associação que reunia militantes e pesquisadores da cultura negra brasileira, em Porto Alegre.
Em 1971, ano da fundação do grupo, ele propôs uma data que celebrasse o valor da comunidade negra e sua fundamental contribuição ao país. A representação do dia ganhou força a partir de 1978, quando surgiu o Movimento Negro Unificado (MNU) no país, que transformou a data em âmbito nacional.
A data fortalece referências históricas da cultura e trajetória negra no Brasil e também traz referências para lideranças atuais. Surge como uma iniciativa de gerar reflexão para as questões raciais no Brasil, suscitando discussões e reflexões sobre racismo, discriminação, igualdade social, inclusão de negros na sociedade e a cultura afro-brasileira, assim como a promoção de fóruns, debates e outras atividades que valorizam a cultura africana.
O Brasil é o país com a maior população negra fora do continente africano. Porém, a história e a contribuição negra para formação da sociedade brasileira é constantemente apagada, marginalizada e esmagada pelo racismo estrutural.
A Consciência Negra traz uma reflexão sobre a importância do povo e da cultura africana no Brasil, valorizando sua história e o impacto que os negros tiveram no desenvolvimento da identidade cultural brasileira, seja na música, na política, na religião, na gastronomia e em tantos outros fatores profundamente influenciados pela cultura negra.
A data, além de despertar e encorajar a sociedade como um todo para a luta contra a discriminação, enaltece o povo preto e evidencia a sua potência e pluraridade. É sobre dar voz, espaço, oportunidades, respeito.
A contribuição dos negros para a música e para cultura brasileira é imensurável, e – entre as diversas formas que eles encontram para resistir ao racismo estrutural impregnado na nossa sociedade – a música é um importante instrumento: é uma forma de sobrevivência, de manifestação, de combate ao racismo e de evidenciar o orgulho de ser negro.
A história da música Zumbi
Na canção “Zumbi” – que também ficou conhecida “África Brasil (Zumbi)” – lançada em 1974 no álbum “A Tábua de Esmeralda”, Jorge Ben Jor homenageia essa figura importantíssima para a história do povo negro que é Zumbi dos Palmares.
O cantor e compositor carioca faz referências à ancestralidade africana, tanto na letra quanto na musicalidade de “Zumbi”, de forma majestosa. Jorge Ben Jor transforma em música a história de um dos pioneiros na luta contra a escravização negra nas Américas.
Em sua homenagem, o cantor e compositor conta das nações escravizadas e se refere a Zumbi como símbolo da resistência ao martírio africano nas fazendas de açúcar, café e algodão.
“Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Dum lado cana de açúcar
Do outro lado o cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão branco
Sendo colhidos por mãos negras
Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
É senhor das demandas
Quando Zumbi chega
É Zumbi é quem manda”
Dois anos depois, o compositor regravou a canção para o álbum “África Brasil”, mas com bastante modificações em relação a versão original, e ela foi rebatizada com o nome do disco, ganhando uma pegada mais pesada e funk, inspirada na black music norte-americana, em especial pela soul music de Memphis (EUA), e que privilegiava o acompanhamento instrumental.
“Angola, Congo, Benguela, Monjolo, Cabinda, Mina, Quiloa e Rebolo”, representam os territórios africanos de onde vinham os escravizados para o Brasil. Essa escolha não é apenas uma referência histórica, mas uma forma de dar identidade e dignidade aos povos trazidos à força à escravidão.
As estrofes seguintes narram a venda de uma princesa africana em um leilão de escravizados e reproduzem o cenário das grandes fazendas do período escravocrata.
O compositor também trabalha um jogo de imagens que contrasta a cor branca do açúcar (“De um lado cana de açúcar”) e do algodão (“Vendo a colheita do algodão branco”) à cor negra do café (“Do outro lado o imenso cafezal”) e da pele dos escravizados (“Sendo colhidos por mãos negras”).
O refrão é cantado três vezes, convocando os negros para a luta por um futuro mais justo e igualitário em um hino à resistência e à luta pela liberdade.

