O sábado à noite encerrou uma era. Morreu no Rio de Janeiro, aos 88 anos, Bira Presidente, fundador do bloco Cacique de Ramos e um dos criadores do grupo Fundo de Quintal. Ele estava internado na Barra da Tijuca e lutava contra um câncer de próstata, além de conviver com o Alzheimer.
O nome de batismo é Ubirajara Félix do Nascimento, mas para o Brasil ele sempre foi Bira. Percussionista de pandeiro como poucos, cantor, compositor e figura agregadora do samba, foi ele quem ajudou a transformar as rodas do subúrbio do Rio num fenômeno musical que reinventou a linguagem do samba tradicional.
Cacique, Doce Refúgio e revolução cultural
Bira fundou o Cacique de Ramos em 1961 ao lado do irmão Ubirany e de amigos do bairro. O bloco não demorou a virar um celeiro de talentos e um centro de resistência cultural, com suas rodas no “Doce Refúgio” marcando gerações. O Cacique virou casa para Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão e para os garotos que logo formariam o Fundo de Quintal.
Com seu pandeiro firme e sorriso largo, Bira presidiu a agremiação até o fim da vida. Era conhecido por todos como “o próprio Cacique”.
O som que veio do fundo do quintal
Nos anos 1970, a efervescência do Cacique deu origem ao Fundo de Quintal. O grupo mudou o samba: introduziu instrumentos como o tantã, o repique de mão e o banjo. Bira estava lá desde o começo, empunhando o pandeiro em canções que atravessaram gerações, como “A Amizade”, “Nosso Grito” e “O Show Tem Que Continuar”.
O som do Fundo influenciou toda uma geração. Thiaguinho, um dos nomes mais populares do samba atual, escreveu nas redes sociais: “Se todos do samba fossem como Seu Bira Presidente… viveríamos no céu do samba”.
Bira, o homem por trás do ritmo
Filho de uma mãe de santo e de um lar ligado ao choro e ao samba, Bira foi batizado na Mangueira aos sete anos. Cresceu no bairro de Ramos e, antes da fama, foi servidor público. Mas foi na música que construiu um legado eterno. Tocou com Beth Carvalho, foi referência em estúdios, nos palcos, nas quadras e nas vielas. Era também pai, avô, bisavô, torcedor do Flamengo e amante da dança de salão.
O adeus de uma comunidade inteira
A nota oficial do Cacique de Ramos e do Fundo de Quintal afirma: “Hoje nos despedimos daquele que é o próprio Cacique”. Junto com os familiares — as filhas Karla Marcelly e Christian Kelly, os netos Yan e Brian e a bisneta Lua —, o Brasil inteiro lamenta. Ludmilla, Marcelo D2 e Belo estão entre os artistas que prestaram homenagens ao mestre.
O velório será informado pela família em breve. Enquanto isso, os tamborins silenciaram por um instante, em respeito a um dos maiores nomes do samba brasileiro.

