A defesa de Bolsonaro sustentou, que o ex-presidente não exerceu papel de liderança na tentativa de golpe de Estado. Entenda as abordagens.
Os advogados de Jair Bolsonaro (PL) sustentaram nesta quarta-feira, 3, que o ex-presidente não exerceu papel de liderança na tentativa de golpe de Estado durante julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante sustentação oral na Primeira Turma, Celso Vilardi e Paulo Amador da Cunha Bueno buscaram dissociar Bolsonaro dos documentos golpistas apreendidos, do episódio do 8 de Janeiro e das principais testemunhas do caso — entre elas, o tenente-coronel Mauro Cid.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro seria o elo central de um plano coordenado para subverter a ordem democrática, iniciado ainda em 2021, após a recuperação dos direitos políticos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A defesa, no entanto, chamou de “subversão do Código Penal” a tentativa de considerar como marco inicial do suposto crime uma transmissão ao vivo em que Bolsonaro ataca as urnas eletrônicas. “Onde está a violência ou grave ameaça?”, questionou Vilardi.
Abaixo o VTVNews preparou em dois pontos as estratégias de defesa do ex-presidente Bolsonaro, sustentado no Supremo Tribunal Federal.

1. Estratégia da defesa: distanciamento e contradições
- No julgamento, os advogados alegaram que o ex-presidente apenas discutiu medidas constitucionais — como GLO e estado de sítio — que foram descartadas por falta de fundamento. “Um assunto encerrado gerar uma pena de 30 anos não é razoável”, argumentou Vilardi. Segundo ele, Bolsonaro foi “dragado para os fatos” e não há elementos que o liguem diretamente aos atos do 8 de Janeiro.
- Sobre os depoimentos dos ex-comandantes das Forças Armadas — apontados pela PGR como provas centrais do plano golpista —, os advogados procuraram esvaziar seu peso. Cunha Bueno afirmou que, se houvesse real intenção de ruptura institucional, Bolsonaro teria promovido trocas no comando militar para garantir apoio.
- A defesa também criticou o acordo de delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente. Para Vilardi, a colaboração é “parcialmente falsa” e, portanto, deveria ser anulada.
- Ele citou mensagens em que Cid diz ter sido pressionado a assumir uma “narrativa pronta” — conteúdos revelados pela imprensa e por advogados de outros réus. “Esse homem não é confiável. Rompeu o contrato, mentiu, e ainda assim se pretende aproveitar seus anexos”, disse.

2. Críticas ao andamento do processo
- A defesa criticou o volume e a complexidade dos autos. São mais de 70 terabytes de arquivos, segundo Vilardi, e as defesas não teriam tido tempo hábil para analisar o conteúdo antes da audiência. “Eu não conheço a íntegra desse processo. O conjunto da prova eu não conheço. São bilhões de documentos. Em uma instrução de 15 dias, seguida de interrogatórios”, protestou.
- Outro ponto abordado foi o fatiamento da denúncia em quatro núcleos — crucial, gerência, desinformação e ações coercitivas — o que, segundo os advogados, impediu perguntas cruzadas entre réus de diferentes frentes. “Requeri, agravei, não foi processado. Isso é algo inusitado”, lamentou Vilardi.
- Cunha Bueno encerrou a sustentação oral pedindo que os ministros baseiem sua decisão “em provas evidentes e não simplesmente em narrativas ou suposições”.
- Segundo ele, a ausência de materialidade comprometeria a credibilidade do julgamento. “Estaremos sempre submetidos ao irrequieto tribunal do povo, que dirá: ‘julga-se aqui um movimento político e não uma liderança’”, concluiu.
Prisão domiciliar e risco de fuga
Enquanto o julgamento prossegue, Bolsonaro permanece em prisão domiciliar sob vigilância da Polícia Federal. A corporação identificou em seu celular uma minuta de pedido de asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei, editada em fevereiro de 2024 — o que levou a um alerta interno sobre risco de evasão. A defesa, no entanto, nega qualquer plano de fuga e classifica a divulgação do documento como “vazamento criminoso”.
A Primeira Turma do STF analisa ainda a conduta de outros sete acusados apontados como partícipes da trama golpista. Para a PGR, todos integraram um mesmo plano articulado e contínuo, com o 8 de Janeiro como ápice. A corte segue sem prazo definido para encerrar o julgamento.

