Tarcísio assim não é amado, mas aceito. Não é inflamado, mas tolerado. Seu crescimento dependerá menos da própria base.
Nesta semana pudemos ver Tarcísio de Freitas testar sua imagem política em tempo real. Um dia, pede desculpas, já no outro se posiciona como vítima.
No meio disso, ensaia uma possível persona que pretende levar até 2026. Um técnico que entrega, o gestor que resolve, o engenheiro que “não para de trabalhar”. E, embora ainda longe do tom beligerante de seu padrinho político, já mede a temperatura da arena — e, sobretudo, as câmeras. Tarcísio apostou em uma postura que o distinguiu de Jair Bolsonaro após fazer piadas em um momento pouco oportunos, tal qual fez o ex-presidente na pandemia. Tarcísio, assim, pediu desculpas.
Esse primeiro episódio ocorreu às margens de uma tragédia, ao comentar, de forma descuidada e néscia no momento, o caso das bebidas adulteradas que provocaram mortes em São Paulo, o governador se permitiu rir naquele momento. O gesto repercutiu, independente do teor de sua natureza. Se foi erro de intenção ou ocasional, pouco importa. No dia seguinte, veio o vídeo pouco espontâneo de perdão.
Ele admitiu o erro e pediu desculpas. Não tergiversou nem dobrou a aposta, como faria Bolsonaro. Preferiu o desvio de imagem mais protocolar, mais rápido — menos ideológico, mais mercadológico.
Alguns analistas políticos criticaram sua postura, questionando coisas como “esse é o homem que vai lutar contra o sistema?”. Tarcísio não vem sendo bem visto por uma ala da direita, especialmente pela juventude mais crítica. O descontentamento aumentou desde que o ex vice-líder do governo, o deputado estadual Guto Zacarias, abandonou a base governista pela complacência do Estado com a elite judiciária de São Paulo.
Bem, já o segundo episódio, poucos dias depois, foi calculado em outra chave, com a narrativa de reação. Reação a uma suposta campanha de desconstrução conduzida pelo PT — com nome e sobrenome: Fernando Haddad. O ministro virou antagonista direto, ainda que circunstancial.
Haddad representa, dentro do governo Lula, o ponto de contato mais direto com São Paulo, seja pela memória recente da eleição de 2022, seja pelo tensionamento fiscal em curso. Tarcísio se vale disso para contrastar papéis de tese e antítese, de herói e vilão, uma dualidade ocidental, que beira o clichê da crítica Nietzschiana. De um lado, quem quer criar impostos; do outro, quem quer cortar gastos. Clássico, não?
Essa comunicação em dois tempos — recuo rápido seguido de avanço controlado — revela uma notória coordenação comunicacional e política em amadurecimento — uma ótima propaganda por assim dizer. Tarcísio não opera mais como “apenas um governador”, mas já como pré-candidato.
Entretanto, há limites. Tarcísio ainda não opera no registro ofensivo de Bolsonaro. Seu vocabulário é mais sóbrio, seus gestos mais comedidos, sua retórica mais institucional, quase como um político do Centrão. Ele se distancia do populismo gritado sem romper com sua base, especialmente do espólio eleitoral bolsonarista que ele poderá herdar.
A direita está em processo de redefinição — o que talvez seja a principal peculiaridade social e política do próximo ano. Sem Bolsonaro viável em 2026 — o que, politicamente, já é quase um dado — o campo supostamente conservador brasileiro busca um novo nome. Diversos nomes vêm surgindo. Zema, Ratinho Jr., o próprio Eduardo Bolsonaro é uma escolha nesse campo, e até o presidente do Movimento Brasil Livre, Renan Santos, do futuro partido Missão tem despontado presença nas pesquisas.
Nomes, por ora, não faltam. O que falta é densidade eleitoral, capilaridade partidária, adesão orgânica. Isto é, militância. Tarcísio surge como solução viável à direita, mas não natural. A militância dos políticos “azul Centrão” são artificiais, e por isso a necessidade de testar imagens eleitoreiras, diferentemente de Renan Santos, cuja base de apoiadores sustentam o MBL há 10 anos.
Tarcísio assim não é amado, mas aceito. Não é inflamado, mas tolerado. Seu crescimento dependerá menos da própria base e mais da desarticulação dos concorrentes.
O espaço à direita será ocupado por quem souber não apenas se defender, mas “atacar”. Não atacar de forma agressiva meu caro leitor, mas em apontar as verdadeiras problemáticas brasileiras, que não estejam arraigadas em jargões pró-Bolsonaro, assim como PSOL fez com o PT no início dos anos 2000 — mas que o partido não sustentou nas décadas seguintes.

