Pesquisa Datafolha mostra rejeição ao projeto da Petrobras, que já acumula R$ 180 milhões em gastos com navio sonda na região.
A maior parte da população brasileira acredita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deveria proibir a exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, região com potencial petrolífero elevado, mas alvo de críticas socioambientais persistentes. O dado é resultado de uma pesquisa nacional do Datafolha, encomendada pela organização Ekō, e obtida com pela agência Reuters.
Realizada entre os dias 8 e 9 de setembro, a sondagem ouviu 2.005 pessoas em todo o país e indica que 61% dos entrevistados são contrários à extração de petróleo na região. Entre os jovens de até 24 anos, a rejeição sobe para 73%, justamente no momento em que a Petrobras pressiona pela autorização para perfuração de um poço exploratório em águas profundas do Amapá, aguardando ainda o aval final do Ibama.

Poço aguardado, licenciamento travado
A estatal busca abrir uma nova fronteira exploratória na Amazônia, sem que tenha sido citada diretamente nas perguntas feitas aos entrevistados. O projeto, no entanto, enfrenta resistência de parte da sociedade civil e de integrantes do próprio governo federal. O presidente Lula, por sua vez, tem reiterado publicamente a legitimidade de o Brasil investigar o potencial da área.
Em setembro, o Ibama aprovou um simulado de emergência da Petrobras, mas exigiu ajustes antes de se manifestar sobre o licenciamento definitivo. Enquanto aguarda a resposta do órgão, a companhia já desembolsou cerca de R$ 180 milhões para manter um navio sonda de prontidão na região, segundo apurou a Reuters.
Apesar do impasse, o governo federal segue ofertando blocos exploratórios na bacia, e petroleiras continuam interessadas. No leilão realizado em junho, empresas como Petrobras, ExxonMobil, Chevron e CNPC arremataram 19 dos 47 blocos disponibilizados.
Amazônia, clima e legado político
Ao divulgar os dados do levantamento, a Ekō criticou os rumos da política ambiental brasileira.
Para a coordenadora de campanhas da organização, Vanessa Lemos à Reuters, “os próximos meses serão decisivos para o legado de Lula” e “ele está deixando que as empresas poluidoras tomem as decisões”. A entidade pede que o governo cumpra os compromissos assumidos com o meio ambiente.
A pesquisa também revelou que 77% apoiam a meta do governo de zerar o desmatamento ilegal até 2030, embora apenas 17% acreditem que o objetivo será alcançado. Para 81% dos entrevistados, o governo deveria fazer mais para proteger comunidades marginalizadas diante dos efeitos das mudanças climáticas, que, segundo 60% dos respondentes, já causam impactos negativos em suas vidas e rotinas familiares.

