Evento reúne chefes de Estado e especialistas para debater compromissos de mitigação e justiça climática.
A capital paraense finaliza nesta sexta-feira a Cúpula do Clima, encontro que antecede a 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, marcada para ocorrer entre 10 e 21 de novembro, também em Belém (PA).
Convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a reunião representa um marco de mobilização internacional em torno da agenda climática e reunirá chefes de Estado, ministros e representantes de organizações multilaterais no Parque da Cidade.
Entre críticas e receios — seja em função da localização escolhida pelo governo Lula para realização da COP, quanto pela baixa aderência internacional — fato é que, independentemente da localização, a COP representa a externalização das preocupações humanas quanto às mudanças climáticas.
Conforme dito por Roger Revelle e Hans Suess, “os humanos estão realizando um experimento geofísico de larga escala, de um tipo que não poderia ter acontecido no passado”. Essas preocupações foram materializadas nos dias atuais, e a COP é a arena maior desse debate.
Abrimos um espaço para que as pessoas na linha de frente das crises climáticas e desafios legais pudessem falar sobre suas expectativas acerca da COP30, realizada em Belém. A reportagem do VTVNews ouviu especialistas e representantes da sociedade civil da região de Bragança Paulista e Campinas, estes preocupados com as mudanças climáticas e com a preservação da fauna e flora.


Expectativas e desafios para a COP30
Para o delegado Vitor Hugo Penedo, de Paulínia, que participou da conferência nacional do meio ambiente este ano, a esperança é de que “as organizações da sociedade civil sejam de fato ouvidas” e que “os povos e comunidades tradicionais tenham suas pautas respeitadas”.
Segundo ele, é fundamental que temas como racismo ambiental, financiamento climático e soluções baseadas na natureza sejam tratados com seriedade. “Continuo na luta da esperança contra a desesperança”, disse.
Já o Capitão Cléber Ventrone, da 1ª Companhia da Polícia Ambiental das regiões de Campinas e Bragança, destacou a importância de políticas ambientais mais eficientes para os biomas paulistas.
“A expectativa é de melhor implementação da legislação ambiental, com aprimoramento tecnológico — o uso de inteligência artificial, drones e geoprocessamento de imagens — ferramentas essenciais para a fiscalização no estado de São Paulo”, afirmou.


Para Bruna Locardi, mestre em Biologia Vegetal pela UNESP, especialista em Negócios Socioambientais e também delegada na Conferência Nacional do Meio Ambiente, a COP30 deve representar um ponto de inflexão na responsabilidade global sobre o planeta. “Nós somos o sistema”, pontuou. Segundo ela, a conferência precisa assegurar:
- Comprometimento com NDCs ambiciosas (Contribuições Nacionalmente Determinadas) para redução das emissões de gases do efeito estufa e adaptação às mudanças climáticas;
- Acordos de justiça climática baseados nos direitos humanos, priorizando saúde, moradia, cultura e meio ambiente equilibrado;
- Investimentos em economia circular e produção regenerativa, com substituição da indústria plástica por tecnologias sustentáveis e carbono zero;
- Incentivo ao transporte livre de combustíveis fósseis, com metas de redução na extração global de petróleo;
- Restauração ecológica em todos os biomas brasileiros, não apenas na Amazônia, visando à segurança hídrica e à preservação da Mata Atlântica.
Bruna reforçou que o país ainda está distante da meta de 12 milhões de hectares restaurados até 2030 e defendeu que a COP30 “tenha coragem de propor um sistema colaborativo e regenerativo — o mesmo que sustentou a vida no planeta”.
Papel da sociedade civil
A diretora executiva da Associação Serra do Itapetinga – Movimento pela Biodiversidade e Organização dos Setores Ecológicos (SIMBiOSE), Daniela Fujiwara, defende que o momento atual exige não apenas discussão, mas sobretudo “investimentos urgentes nos países do Sul Global” e “medidas efetivas para o enfrentamento das mudanças climáticas”.
Segundo ela, os eventos extremos e os impactos socioambientais, cada vez mais frequentes, ampliam desigualdades ao afetar com mais intensidade comunidades em situação de vulnerabilidade. Na Mata Atlântica, bioma mais degradado do Brasil, a organização concentra esforços na redução da incidência e dos danos causados por incêndios florestais, com ações que incluem prevenção, preparação e articulação entre poder público e comunidades.
Ainda assim, Fujiwara ressalta que “os desafios diários persistem por conta dos investimentos insuficientes”. Para ela, a COP30 deve representar um marco na definição de compromissos concretos de financiamento e na garantia de que “os recursos cheguem até as comunidades que estão na linha de frente”, pois são essas populações que conhecem seus territórios e sabem como agir de forma eficaz.
Ela também destaca o papel da sociedade civil, citando a Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV), da qual a SIMBiOSE é fundadora, como um modelo de ação conjunta capaz de ampliar o alcance da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo. Fujiwara conclui com um alerta: “a força de vontade não basta se não houver financiamento.”
Entraves legais e papel feminino
A jurista Drª Daniela Libório, diretora da ESA OAB-SP, coordenadora da Comissão de Sustentabilidade do IBDA e professora da PUC, destacou os entraves que persistem na participação efetiva das mulheres nos espaços de decisão.
Segundo ela, há presença ativa da sociedade civil e de “vários eventos capitaneados por mulheres”, mas o problema continua sendo o mesmo: “acessar os líderes de governo, e que nos ouçam”. Para Libório, essa exclusão é estrutural — “a cada 10 homens na mesa de negociação, nós mulheres somos a 11ª” — e compromete o alcance de soluções mais inclusivas e eficazes.
Apesar da atuação intensa nos chamados side events, ela afirma que o ambiente formal ainda resiste em reconhecer as vozes femininas.
Sobre possíveis avanços legislativos relacionados à agenda climática, Libório pondera: “seria excelente se for necessário. Não sou otimista sobre, mas começamos com um financiamento climático não sendo posto à mesa e com poucas mulheres na liderança”. Ainda assim, ela mantém uma postura resiliente diante do cenário: “eu não desisto, mas acho que há muitos desafios para pouco tempo. Espero que tenhamos pelo menos espaços que possam ser costurados”.

