O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que vai adotar medidas de retaliação econômica contra os Estados Unidos e o governo Trump.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que vai adotar medidas de retaliação contra os Estados Unidos após a decisão do presidente norte-americano Donald Trump de aumentar em 50% as tarifas sobre produtos brasileiros, a maior dentre os países afetados pelo “tarifaço”. A resposta será fundamentada na Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso neste ano, e poderá desencadear uma escalada na tensão comercial entre os países.
A medida norte-americana foi comunicada a Lula por carta enviada por Trump na quarta-feira (9), em que o republicano associa o aumento tarifário a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Em reação, Lula publicou nota em que afirma que o Brasil responderá “à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica” a qualquer medida unilateral.
Impacto econômico e reação institucional
O aumento das tarifas atinge diretamente as exportações brasileiras de aço, petróleo, aviões, celulose, café, carne e suco de laranja. De acordo com relatório do banco Goldman Sachs, a medida poderá reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro entre 0,3 e 0,4 ponto percentual, mesmo sem retaliação. Se houver resposta equivalente por parte do Brasil, o impacto tende a ser mais severo sobre a atividade econômica e a inflação.
Os efeitos começaram a ser sentidos no mercado financeiro. Após o anúncio de Trump, a Bolsa brasileira já indicava, no mercado futuro, queda de mais de 2% para esta quinta-feira (10). A Embraer chegou a registrar queda de 8% no mercado norte-americano após o fechamento da bolsa. Papéis da Petrobras, Vale, Itaú e Bradesco também operavam em queda durante a noite.

Itamaraty devolve carta e acusa EUA de “afirmações inverídicas”
O Ministério das Relações Exteriores convocou o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, para uma reunião com a secretária da América do Norte e Europa, Maria Luisa Escorel. Segundo nota oficial, a carta de Trump foi devolvida por conter “afirmações inverídicas” e “erros factuais” sobre a relação bilateral. O governo brasileiro classificou o teor do documento como ofensivo.
Nos bastidores, o STF optou por não se manifestar publicamente sobre o tema. O presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, conversou com Lula e acordou que a interlocução será conduzida exclusivamente pelo Itamaraty.

A decisão do governo Trump foi utilizada por aliados de Jair Bolsonaro para pressionar o Congresso brasileiro. Em nota intitulada “Uma hora a conta chega”, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) relacionou a sobretaxa à atuação do STF e pediu uma “saída institucional” que, segundo ele, deveria restaurar as liberdades. Eduardo reside atualmente nos Estados Unidos, onde atua junto a parlamentares republicanos e setores conservadores em defesa do pai.
O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que o partido estuda formas de pedir a cassação do mandato de Eduardo, a quem atribui parte da articulação internacional contra o Brasil. Lindbergh também criticou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que publicou foto com boné dos EUA durante a semana. “Os vira-latas da direita têm que se explicar”, declarou.
Ameaças de Trump
Na carta enviada a Lula, Trump adiantou que poderá ampliar ainda mais as tarifas caso o Brasil insista na retaliação. “Se, por qualquer motivo, você decidir aumentar suas tarifas, então, qualquer que seja o número escolhido para aumentá-las, ele será adicionado aos 50% que cobramos”, escreveu.
A retórica do republicano foi reforçada por nota da embaixada dos EUA, que chamou as investigações contra Bolsonaro e seus apoiadores de “perseguição política” e afirmou que o ex-presidente e sua família são “fortes parceiros” dos norte-americanos. A embaixada acusou o Brasil de desrespeitar as “tradições democráticas” do País — declaração que acirrou ainda mais os ânimos entre os dois governos.

