O dia a dia de quem vive na Europa, seja em Portugal, na França ou Itália está muito longe dos posts de muitos brasileiros com a hashtag “Euro Summer”
Essa coluna tem a intenção de mostrar ao leitor brasileiro o que há de melhor em Portugal, mas também mostrar o seu lado menos luminoso.
Se o lado luminoso volta e meia resvala em receitas portuguesas de cair o queixo, em divulgar hotéis ou cidades paradisíacas e, ainda, falar da cultura peculiar dos portugueses; o lado menos luminoso nos leva a lugares não muito desejáveis como a caça aos imigrantes, a xenofobia e o racismo.
Apesar dos pesares, acredito que essa coluna tem retratado de modo até equilibrado essa dualidade sem cair no pessimismo e no deslumbramento desnecessários.
Um dos grandes erros que tenho percebido ao longo desses dez anos em que moro Em Terras Lusas, é a romantização que a maioria dos brasileiros tem em relação a Europa de uma forma geral, quiçá sobre morar e viver por aqui.

E não é para menos, berço da civilização mundial, com cidades e monumentos históricos emblemáticos, e um nível de vida médio acima do brasileiro, não há como não idealizar que a grama do vizinho é mais verde do que a nossa.
Eu mesmo já cai nessa armadilha algumas vezes, mas foi só morando por essas bandas que percebi que a realidade de que não há país perfeito no mundo, se impõe de maneira inevitável.
O dia a dia de quem vive na Europa, seja em Portugal, na França ou Itália está muito longe dos posts de muitos brasileiros que fazem questão de mostrar suas férias de verão e nomeá-las com a hashtag “Euro Summer” no Instagram.
A vida por aqui é dura como em todo lado, cheia de problemas e com contas a pagar. Não há país perfeito e não há tantos milagres no cotidiano, infelizmente.
A Europa, grosso modo, poderia ser equiparada a muitas cidades do interior do Brasil, principalmente as do sul do país, ou as do interior de São Paulo seja em termos de calma, condições de vida e até de segurança.
O mesmo acontece com a maioria dos habitantes, em geral pessoas simples sem nenhuma qualidade ou glamour em especial.
Mas se a comparação incluir cidades como São Paulo ou Rio De Janeiro, a comparação com a Europa chega a ser injusta, muitas vezes. Com raríssimas exceções, são poucas as cidades europeias que têm a pujança da capital paulista ou a beleza icônica da capital carioca.
Se a injustiça social e a criminalidade são os maiores flagelos brasileiros, a escala reduzida desses problemas nos faz imaginar, equivocadamente, que eles não existem por essas bandas; mas lá estão eles todos os dias estampando as capas dos jornais e noticiários da tv, mesmo que em números reduzidos.
O grande flagelo europeu é mesmo a guerra. Não há como ignorar que há apenas 42 horas ou, há 4 mil km de distância da cidade do Porto, cidadãos ucranianos, há quase 3 anos, lutam por seu país e tentam escapar da morte todos os dias.
Mais ao oriente, a guerra é outra e toma proporções cada vez mais assustadoras, fazendo da Faixa de Gaza um cemitério a céu aberto, com mais mortes e sangue a escorrer pelas ruas.

Independentemente de quem é quem nesse show de horrores, onde a desumanidade é o tema central, o que fica claro é que o mundo e nós, seres humanos, estamos caminhando a olhos vistos para um beco sem saída,e pouco fazemos para mudar o quadro geral.
Para fugir da realidade em que vivemos, quer seja brasileira ou europeia, compreendo que romantizar sobre a “cor da grama do vizinho” ou sobre a possibilidade de se mudar de país e ter uma vida melhor, seja uma alternativa.
Entretanto, o tempo urge, as mazelas são muitas e a alienação uma evidência. Portanto, caro leitor, mãos à obra porque o mundo precisa de ação.

O “Euro Summer” é só um recorte ínfimo de uma realidade cafona que não existe e Ines de La Fressange, quando muito, só existe de frente ao seu espelho e em dias mais que especiais.
Romantizar não é preciso; afinal, em tempos atuais, o romantismonada mais é que uma forma especial de burrice.

