Segundo o levantamento da ABMES, 34% dos entrevistados afirmaram que precisariam ter interrompido as apostas online para iniciar os estudos.
A prática regular de apostas esportivas tem dificultado o ingresso e a permanência de jovens brasileiros na educação superior privada. De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e da Educa Insights, 34% dos entrevistados afirmaram que precisariam ter interrompido as apostas online (bets e cassinos) para iniciar os estudos no primeiro semestre de 2025. Entre os alunos já matriculados, 14% relataram ter atrasado mensalidades ou trancado o curso em decorrência dos gastos com plataformas de bets.
A pesquisa ouviu 2.317 pessoas, de 18 a 35 anos, em todas as regiões do país e de diferentes classes sociais. O impacto financeiro das apostas, antes considerado periférico, se tornou um entrave concreto para quase 1 milhão de potenciais ingressantes na educação superior privada já no primeiro semestre de 2026. A projeção indica que 986 mil jovens — do total estimado de 2,9 milhões — correm risco de não efetivar matrícula por comprometimento de renda com as apostas.
Nordeste e Sudeste concentram os maiores índices
Em recorte regional, os dados apontam Nordeste e Sudeste como as regiões com maior proporção de jovens que associam o adiamento da graduação à prática das bets. Para o primeiro semestre de 2025, os percentuais são de 44% e 41%, respectivamente. Para o segundo semestre, os índices caem, mas ainda se mantêm elevados: 32% no Nordeste e 27% no Sudeste. No extremo oposto estão Sul e Centro-Oeste, com os menores índices: 17% e 18% no primeiro semestre, e 16% e 14% no segundo.

Perfil dos apostadores e frequência das bets
A maior parte dos apostadores frequentes é composta por homens de 26 a 35 anos, trabalhadores, com filhos, oriundos das classes C e D e egressos da rede pública de ensino médio. Segundo o levantamento, 52% dos jovens entrevistados apostam regularmente, em uma frequência de uma a três vezes por semana — um crescimento em relação aos 42,9% registrados em setembro de 2024.
O volume financeiro gasto também chama atenção. Jovens da classe A investem, em média, R$ 1.210 mensais nas apostas, enquanto nas classes D e E o valor médio é de R$ 421. Ainda que 80% afirmem comprometer até 5% da renda, cresceu a proporção dos que extrapolam esse limite. Entre os mais pobres, é crescente o número de pessoas que direcionam mais de 10% do orçamento familiar às bets.

Comparativo e agravamento do cenário
O comparativo entre os dados atuais e os da edição anterior da pesquisa demonstra agravamento. O número de jovens que apostam regularmente subiu 9 pontos percentuais em relação a setembro do ano passado. Já o grupo que compromete parte da renda com apostas passou de 51,6% para 54,2%. Houve também um aumento de 11,4 pontos percentuais na quantidade de pessoas que deixaram de iniciar a graduação por conta das bets.
Entre os estudantes já matriculados, os efeitos também são sentidos: 14% afirmaram ter atrasado mensalidades ou trancado o curso em função dos gastos com apostas. O índice sobe para 17% entre alunos das classes B1 e B2.
“Fenômeno novo, mas de impacto crescente”
Paulo Chanan, diretor-geral da ABMES, avalia que o fenômeno representa um obstáculo real ao acesso à educação superior no Brasil. “Precisamos olhar com seriedade para esse cenário e desenvolver políticas públicas que conscientizem os jovens sobre as responsabilidades envolvidas com a prática de apostar”, afirma.
Ele ressalta que, por ser um fenômeno relativamente recente no país, o comportamento ainda carece de amadurecimento, tanto por parte dos apostadores quanto do poder público.

