Por Natalia Pescaroli
Já vimos serem publicadas algumas matérias sobre detectores de IA que têm sido usados para identificar se textos foram produzidos por inteligência artificial. Na repercussão do tema, alguns profissionais, temendo críticas, dizem que chegaram a “piorar” propositalmente seus textos para que parecessem mais humanos. Essa situação tem provocado uma reflexão essencial: será que o objetivo é entregar o melhor resultado ou provar o quanto um trabalho teve envolvimento humano?
O aprendizado de uma especialista em inteligência emocional que tive o privilégio de ouvir é útil aqui: se seu voo foi cancelado, vale mais descarregar raiva ou buscar resolver a situação para embarcar no próximo avião? No dia a dia corporativo, agilidade de pensamento e foco na solução são essenciais. Se o foco está em procurar culpados, perde-se tempo e energia. O mesmo vale para a IA: seu uso correto deve aumentar eficiência, qualidade e criatividade, não gerar medo ou insegurança.
Segundo a pesquisa Confiança, Atitudes e Uso de Inteligência Artificial: um estudo global 2025, da KPMG e Universidade de Melbourne, 86% dos trabalhadores brasileiros utilizam IA em suas empresas, e 71% notaram aumento de eficiência, qualidade do trabalho e potencial de inovação. A IA está presente em tarefas que vão desde diagnósticos médicos até otimização de energias renováveis, provando que seu potencial é vasto quando usada de forma adequada.
No entanto, dados internacionais mostram que a cultura organizacional é determinante para o sucesso da adoção. A McKinsey aponta que menos da metade das organizações que utilizam IA generativa estão redesenhando processos e envolvendo líderes para gerar impacto real. Dar um passo atrás e questionar como o ambiente e a forma de pensar da empresa precisam ser repensados é essencial para maximizar o uso da IA como ferramenta no dia a dia.
Isso é reforçado pela Harvard Business Review, que revelou que profissionais avaliados como usuários de IA podem ter sua competência percebida como menor — especialmente mulheres e pessoas acima de 40 anos — evidenciando barreiras culturais que ainda existem. Ambientes de controle e punição geram medo, retrabalho e até textos “humanizados” artificialmente. Já organizações que promovem aprendizagem, experimentação e governança clara transformam a IA em aliada, liberando criatividade e aumentando resultados.
A lição é clara: não se trata apenas de adotar tecnologia, mas de cultivar cultura. Gestão ativa, treinamento, governança transparente, responsabilidade e espaços para experimentação são decisivos para a adaptação bem-sucedida da IA. Nossa capacidade de aprender e liderar o trabalho das IAs com sucesso dependerá de como as empresas escolherão gerar valor real.
KPMG & Universidade de Melbourne. Confiança, Atitudes e Uso de Inteligência Artificial: um estudo global 2025. https://kpmg.com/br/pt/
McKinsey & Company. The State of AI in 2023: Generative AI’s breakout year. https://www.mckinsey.
Harvard Business Review. Research: The Hidden Penalty of Using AI at Work. https://hbr.org/2025/08/
Natalia Pescaroli é Co-founder & Diretora de Atendimento Cherryland

