Advogado-geral da União era o favorito do presidente e assume a vaga aberta com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficializou nesta quinta-feira, 20, a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para ocupar a vaga deixada no Supremo Tribunal Federal (STF) após a aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso, consumada em 18 de outubro. Jorge Messias era membro do governo Dilma, e ficou conhecido como o “Bessias” da escuta entre o presidente Lula e a ex-presidente Dilma.
Messias já circulava como o nome mais provável há meses e recebeu do presidente a promessa de que seria escolhido assim que houvesse uma nova cadeira disponível.
Embora o cargo tenha sido disputado inicialmente por outros nomes, o principal concorrente — o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) — não avançou. Lula deseja que Pacheco concorra ao governo de Minas Gerais em 2026, e o próprio parlamentar afirmou que pretende deixar a vida pública. Com a saída de Barroso antes do previsto, a escolha por Messias se consolidou.


Quem é Jorge Messias, o “Bessias”
Messias atuou como subchefe para Assuntos Jurídicos (SAJ) da Presidência durante o governo Dilma Rousseff e ficou nacionalmente conhecido após ter seu nome citado em um telefonema entre Lula e Dilma, divulgado no contexto da Operação Lava Jato. Na gravação, o áudio distorcido fez “Messias” soar como “Bessias”, apelido que se tornou recorrente na época.
A conversa tratava do envio de um termo de posse ao ex-presidente Lula, para ser usado “em caso de necessidade”. A divulgação ocorreu após o então juiz Sérgio Moro retirar o sigilo das escutas — decisão pela qual ele posteriormente enviou um ofício ao STF pedindo “respeitosas escusas”.
Anos depois, em 2021, o plenário do STF declarou a parcialidade de Moro no caso do triplex do Guarujá, anulando a condenação e desconsiderando as provas produzidas na investigação. Na época em que as gravações se tornaram públicas, a conversa retratou o seguinte diálogo:
Dilma: “Alô.”
Lula: “Alô.”
Dilma: “Lula, deixa eu te falar uma coisa.”
Lula: “Fala, querida. Ahn?”
Dilma: “Seguinte, eu tô mandando o ‘Bessias’ junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!”
Lula: “Uhum. Tá bom, tá bom.”
Dilma: “Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.”
Lula: “Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.”
Dilma: “Tá?!”
Lula: “Tá bom.”
Dilma: “Tchau.”
Lula: “Tchau, querida.”
Próximos passos no Senado
A indicação presidencial não garante o cargo, embora raramente tenha sido vetado as indicações ao longo da história do Brasil. O nome de Messias ainda será analisado pelo Senado, etapa que tradicionalmente concentra o maior escrutínio político. Ele deve enfrentar sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), colegiado composto por 27 senadores — embora todos os 81 parlamentares tenham direito de questioná-lo. Essas sabatinas costumam ultrapassar oito horas, com temas jurídicos, políticos e até pessoais na pauta.
Concluída essa fase, a CCJ elabora um parecer pela aprovação ou rejeição, em votação secreta por maioria simples. Em seguida, o indicado é submetido ao plenário do Senado, onde precisa obter pelo menos 41 votos favoráveis para ser confirmado. Em geral, sabatina e votação ocorrem no mesmo dia.
Parlamentares avaliam que essa será a etapa mais sensível para Messias, em meio ao apoio minguado do governo no Congresso — cenário evidenciado na recente votação que reconduziu Paulo Gonet à Procuradoria-Geral da República.
Se aprovado, o nome segue para publicação no Diário Oficial da União, e Messias participa da cerimônia de posse no STF ao lado de representantes dos Três Poderes. Em mais de 133 anos de história da Corte, apenas cinco indicações foram rejeitadas pelo Senado — todas em 1894.

