Na China, o líder norte-coreano, Kim Jong Un e do presidente russo, Vladimir Putin, participam em um encontro rato do desfile da vitória.
Em um raro encontro público com os líderes da Rússia e da Coreia do Norte, o presidente da China, Xi Jinping, advertiu que a humanidade enfrenta uma encruzilhada entre paz e guerra.
O discurso foi feito durante um desfile militar de grande escala realizado nesta quarta-feira (3) na Praça Tiananmen, em Pequim, para marcar os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. A cerimônia teve Vladimir Putin e Kim Jong Un como convidados de honra — presença incomum e significativa, em meio a crescentes tensões geopolíticas.
Durante 70 minutos de desfile, Xi passou em revista tropas e equipamentos militares de última geração, como mísseis hipersônicos, drones subaquáticos e um robô de ataque apelidado de “lobo mecânico”. Caças cruzaram os céus em formação, helicópteros arrastaram bandeiras de guerra, e ao fim do evento, foram soltas 80 mil aves brancas, chamadas oficialmente de “pássaros da paz”.

Em traje similar ao usado por Mao Tsé-Tung, Xi saudou mais de 25 chefes de Estado, entre eles o indonésio Prabowo Subianto, cuja aparição causou surpresa. Na tribuna, Xi permaneceu entre Putin e Kim, com quem trocou palavras em diversos momentos. Esta foi a primeira vez que os três líderes apareceram juntos em público.
Enquanto Xi discursava sobre os riscos do unilateralismo e da lógica de soma zero, o ex-presidente dos EUA Donald Trump, em postagem na rede Truth Social, ironizou a aliança: “Enviem minhas calorosas saudações a Putin e Kim, enquanto conspiram contra os Estados Unidos”. O Kremlin negou qualquer conspiração, afirmando que o comentário foi sarcástico.

Visão global e alianças
A cerimônia teve duplo propósito: exaltar o renascimento da China após a guerra e projetar a liderança do país em uma nova ordem internacional. Xi vem reiterando que a “grande rejuvenescência da nação chinesa” é inevitável. Em reunião anterior, propôs um mundo multipolar e condenou o que chamou de “hegemonismo”, em crítica velada à política externa americana.
Putin e Kim, alvos de sanções ocidentais por suas respectivas atuações — a guerra na Ucrânia e o programa nuclear norte-coreano — reforçaram a ideia de um bloco geopolítico alternativo. Em encontro bilateral, Putin agradeceu pelo apoio de soldados norte-coreanos na guerra, ao que Kim respondeu com disposição para ampliar a colaboração.
A visita também serviu para selar acordos. Putin fechou novos contratos energéticos com Pequim, e Kim buscou respaldo tácito ao arsenal nuclear de Pyongyang. É a primeira vez em 66 anos que um líder norte-coreano participa de uma parada militar chinesa. Kim ainda apertou as mãos de Woo Won-shik, presidente da Assembleia Nacional da Coreia do Sul — gesto diplomático incomum diante da deterioração nas relações entre os dois países.
O evento também serviu de cortina para desafios internos. Mais de uma dezena de generais ligados a Xi foram afastados nos últimos dois anos, sob acusações de corrupção nas Forças Armadas. Ainda assim, o presidente buscou reforçar a imagem de uma China coesa, patriótica e tecnologicamente avançada.


