Em seu último show da turnê Tempo Rei em São Paulo, realizado neste sábado (18), Gilberto Gil transformou o palco em um espaço de memória e amor. O artista dedicou a apresentação à filha Preta Gil, que morreu em julho, aos 50 anos, em decorrência de um câncer no intestino.
Visivelmente emocionado, Gil lembrou da última vez que dividiram o palco, em abril, quando cantaram juntos Drão — música escrita décadas atrás para a mãe de Preta, Sandra Gadelha.
Ao mencionar o neto Francisco, integrante da banda Gilsons, o cantor se dirigiu à plateia com um simples, mas poderoso, “Saudosa Pretinha”, arrancando aplausos e um coro coletivo de “Preta! Preta!”.

Entre canções e reflexões, Gil falou sobre a finitude e o mistério da vida após a morte, em um dos momentos mais introspectivos da noite. “Essa é uma questão que não foi resolvida ainda pela humanidade”, disse o artista, antes de concluir com uma frase que ecoou no estádio: “Pretinha, onde quer que esteja, ou não esteja, já esteve. E no ter estado conosco, estará sempre conosco.” O público, comovido, respondeu com silêncio reverente e aplausos longos, reconhecendo o artista que há mais de seis décadas transforma dor em poesia.
Como manda a tradição da turnê, Gil recebeu um convidado especial para dividir o palco — e desta vez, o momento foi histórico. Roberto Carlos surgiu sob aplausos para cantar A Paz, parceria de Gil com João Donato, seguida do clássico Além do Horizonte.
Em sintonia rara, os dois mestres da música brasileira trocaram versos, sorrisos e afeto, encerrando a apresentação em um coro de “lalalá” que uniu gerações. Assim, entre memórias, homenagens e encontros, Gilberto Gil se despediu dos palcos paulistas reafirmando sua grandeza e sua eterna capacidade de transformar emoção em arte.

