Apesar de abrir a coletiva com uma retórica conciliatória e referências entre Alasca e Rússia, Putin não apresentou concessões aos EUA.
O aguardado encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin, realizado nesta sexta-feira (15) em Anchorage, no Alasca, terminou sem qualquer avanço concreto sobre o conflito na Ucrânia. A expectativa por um possível cessar-fogo ou alívio nas sanções impostas à Rússia foi frustrada, enquanto o presidente russo saiu da reunião com a imagem diplomática que buscava: a de interlocutor novamente aceito em território americano.
Nenhum compromisso firmado
Apesar de abrir a coletiva com uma retórica conciliatória e referências à “proximidade histórica” entre Alasca e Rússia, Putin não apresentou concessões. Falou em “pavimentar o caminho para a paz”, mas sem detalhar quais seriam os termos. Trump respondeu de forma evasiva: “ainda não chegamos lá, mas já avançamos. Não há acordo até que haja um acordo”. O encontro terminou sem qualquer definição sobre o futuro da guerra, mantendo intocadas as exigências de Moscou — inaceitáveis para Kiev e para os aliados europeus.
Putin insiste em congelar as linhas de frente atuais, o que implicaria o reconhecimento da ocupação russa na Crimeia e no Donbas. Também reitera a necessidade de desmilitarização da Ucrânia e seu afastamento da Otan, além de pressionar pela remoção do governo de Volodmir Zelenski. Nenhuma dessas exigências obteve acolhimento até hoje.
Putin colhe dividendos simbólicos
Mesmo sem um acordo, o gesto diplomático já representa ganhos para o Kremlin. Putin foi recebido com cordialidade, falou primeiro — rompendo protocolos típicos das coletivas nos EUA —, foi elogiado por Trump, e deixou o país com imagens de saudação calorosa, após mais de três anos de isolamento. Ao final do encontro, agradeceu em inglês e convidou o republicano para uma cúpula em Moscou. Trump reagiu: “Vou receber algumas críticas, mas acho que pode acontecer”.
A visita ao Alasca marca o retorno de Putin ao território de uma potência da Otan após sanções multilaterais e um mandado internacional de prisão por crimes de guerra. Na prática, a reunião foi utilizada para reforçar sua posição de chefe de Estado legítimo, afastando a imagem de paria diplomático.

Trump sai sem cessar-fogo e evita tema
Durante toda a coletiva, Trump mencionou pouco o cessar-fogo — apesar de, horas antes, ter dito a bordo do Força Aérea Um que “não ficaria feliz” sem um acordo ainda nesta sexta. Encerrada a reunião, ele afirmou que falará com Zelenski e líderes da Otan, mas concentrou seu discurso em repetir frases conhecidas: críticas a Joe Biden, elogios à sua relação pessoal com “Vladimir” e queixas sobre a “farsa da Rússia” em 2016.
O evento também destoou do padrão habitual de Trump ao terminar sem perguntas da imprensa, encerrando-se várias horas antes do previsto. Assessores russos estimavam que o encontro duraria de seis a sete horas. O desfecho precoce sinaliza que não houve espaço para negociações prolongadas.
Reação ucraniana: ceticismo e frustração
Em Kiev, a entrevista coletiva foi acompanhada com atenção por autoridades que aguardavam algum indício de mudança. Nada disso veio. “Acho que foi um fracasso, porque Putin voltou a falar sobre questões de segurança e usou sua retórica habitual”, afirmou o parlamentar ucraniano Oleksandr Merezhko.
Para os líderes ucranianos, o conflito segue estagnado e sem perspectivas de resolução imediata. E para Putin, o simples fato de estar de volta à mesa com os Estados Unidos parece ter sido suficiente.

